Aluno de universidade ainda patina no inglês

Maioria se concentra em patamar intermediário (54%) em teste de proficiência aplicado pelo MEC; avançado tem só 3% de estudantes

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Por Victor Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Aprovados em processos seletivos disputados, grande parte dos alunos do ensino superior público – ao menos quatro a cada dez – ainda trava a língua com o inglês e tem apenas nível básico no idioma. A maioria se concentra no patamar intermediário (cerca de 54%) e, no avançado, só 3%. O baixo domínio da língua, para especialistas, é um dos entraves para internacionalizar as universidades brasileiras.

Esse desempenho foi medido em cerca de 237 mil testes de certificação em inglês (o Toefl, aceito em universidades estrangeiras) aplicados gratuitamente pelo Ministério da Educação (MEC) entre alunos de graduação e da pós da rede federal, além de outras públicas estaduais. O grupo testado é visto como a elite do ensino superior. Onze mil professores e funcionários também fizeram testes.

Beatriz Cardoso, aluna de Engenharia de Materiais, não tinha um bom domínio do idioma no começo do cursomas se dedicou para aproveitar melhor a graduação e viajar pelo Ciência sem Fronteiras Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

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Até junho, eram 366,3 mil inscritos, mas nem todos os exames estavam corrigidos. Também há novas rodadas de provas em andamento. A aplicação do Toefl faz parte do programa federal Inglês sem Fronteiras (IsF), que envolve aulas presenciais e virtuais do idioma.

Aluna de Tecnologia em Informática em Saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dayane Carvalho, de 20 anos, pede ajuda a colegas para entender textos e vídeos. “Vim de escola pública e não pude fazer curso de língua”, diz.

“Queria fazer intercâmbio, mas na graduação não vai dar tempo. Quem sabe na pós”, prevê. O Toefl é usado como requisito em alguns editais do Ciência sem Fronteiras (CsF). O baixo domínio de inglês entre os alunos é visto como um obstáculo para que mais pessoas concorram às bolsas do programa.

Beatriz Cardoso, de Engenharia de Materiais da Federal do ABC (UFABC), terminou o ensino médio com o nível básico, mas hoje se considera proficiente. “Comecei a fazer inglês na época do vestibular e, antes da graduação, fiz um intercâmbio curto no Canadá”, diz ela, de 22 anos. “Na Engenharia, estudei mais e consegui ir à Austrália pelo Ciência sem Fronteiras.”

Foi a experiência fora do País, afirma, que alavancou seu aprendizado. “Melhora a capacidade de argumentação”, diz. A desenvoltura com o idioma também ajuda a conquistar estágio ou emprego. “Como estou em uma multinacional, tenho contato com inglês todos os dias.”

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Cenário. O desafio do ensino de inglês, segundo especialistas, pode ser maior do que indicam os números do Toefl. Como fazer o teste era optativo, é possível que alunos de desempenho mais fraco não tenham tentado. “Aconteceu no início, mas o interesse cresceu porque a nota do exame agora é requisito para se inscrever nos cursos presenciais de idioma”, diz Vládia Borges, coordenadora do IsF na Federal do Ceará (UFC).

O MEC avaliou como positivo o fato de mais alunos estarem no grupo intermediário do que no patamar básico. Isso indica, afirma a pasta, que é possível trabalhar em médio prazo para que os alunos participem da mobilidade acadêmica. 

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